quarta-feira, 30 de abril de 2014

Versos de chuva

Uma vez, um versador qualquer, falando sobre a falta que fazia a sua amada, disse-lhe que a chuva nada mais era que o céu desaguando suas lágrimas de saudade. Ela riu do seu exagero, sempre o viu como um homem que, de tanto que guardara seu amor para si, trazia consigo toda a poesia que aprisionara em seu peito. Mas não se vive de poesia.

A utopia dos sonhadores os levam a versos e prosas descompassados. Não em sua riqueza de detalhes ou sutileza de suas vozes, mas na carência de sentidos. Presos em aviltes mãos, as escritas que, de tanto buscarem nuances de perfeição, esquecem que à musa que lhe coube a inspiração, seus devaneios tolos podem não passar de meras palavras soltas. Nem em toda vastidão do universo caberiam versos suficientes para serenarem um coração que escolhera a solitude como sua companheira. Arranca-lhe sorrisos, talvez um olhar de compaixão ou complacência ao frustrado poeta, mas não o fulgor de seu coração.

Ao pobre versador, cabe-lhe seu caderninho de versos, a pena e o tinteiro fantasiados em moldes modernos sobre a escrivaninha e a companhia de seus malfadados poemas incompreendidos. Quanto à saudade de sua amada, pobre pensador, de tanto chover em si, afogar-se-á em suas lágrimas e nem suas poesias errantes o salvarão do triste fim do seu coração infausto.



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