quarta-feira, 30 de julho de 2014

Diálogos Vitruvianos

(Para ouvir enquanto lê: Uninvited - Alanis Morissette)





Hoje se completam, exatamente, 100 dias da primeira publicação do blog Diálogos Vitruvianos. De 21/04 para cá, foram mais de 1500 acessos para os 15 textos postados. Alguns com mais visualizações que outros, mas acreditem, em todos os textos busquei pôr o máximo de sentimento possível. Sim! Hoje, por mais cafona que possa ser, ainda há pessoas que escrevem sobre sentimentos. Para muitos, uma exposição desnecessária de algo pessoal, uma exploração de algo tão banalizado nos dias atuais, que passou a não ter mais o seu devido valor. Mas acreditem, ainda há gente que encontre na paixão a sutileza de se encantar diariamente pela mesma pessoa.

Dizem que, para falar sobre um amor perdido, nada melhor do que montar uma dupla sertaneja, se aventurar tocando arrocha ou virar um escritor. Como minha voz é péssima e minha escrita é ruim, optei pela ideia menos pior: escrever. Sempre busquei viver minhas opções com intensidade, seja um trabalho que eu faça, uma atividade que me proponha ou um relacionamento. Após o falecimento de meu pai, no ano passado, me fechei completamente para envolvimentos amorosos. Pior, na época, para minha então namorada. Não era justo eu ficar com alguém sem poder estar antes equilibrado dentro de mim, daí terminei. Levei pouco mais de um ano até conseguir gostar de alguém novamente. Eis que surge Alba*. Entre as primeira palavras pelo facebook (por causa de uma foto curtida por um amigo em comum, que apareceu nas atualizações) até o último beijo na frente do prédio dela, foi pouco mais de um mês. Conchas, sequilhos, sorrisos e planos seguiram... e se foram. Nunca tinha vivido algo tão intenso e inesperado como aquela paixão. Não é à toa que a pedi em namoro no dia em que nos encontramos pessoalmente pela primeira vez. Eu tive a certeza do que eu queria, desde as nossas primeiras palavras trocadas, dias antes. Mas me precipitei. Não pela vontade e nem pela certeza. Mas pela pressa em viver aquele estado de êxtase tão novo e surpreendente para mim. Eu não era a vítima de um coração fechado para um sentimento, fui o algoz do meu próprio coração renovado e me julgando pronto para abrí-lo de forma escancarada. Coloquei ele sobre a mesa, mas, simplesmente, esqueci de perguntar se era o mesmo que ela queria fazer. Eis que, na impossibilidade de dizer essas malfadadas palavras para ela, surgiu o blog Diálogos Vitruvianos. Se ela o lê? Acredito que não. Mas não a culpo, tem gente melhor escrevendo sobre essas bobagens do coração (rsrs). Confesso que, após ela, surgiram outras pessoas, mas ninguém que despertasse esse desejo de não ver o tempo passar sob sua companhia. Pessoas excepcionais que, em outros momentos, teriam me feito mais feliz. Mas não, não tinham aquele brilho nos olhos que quase sumiam sob as bochechas quando sorria; Nem aquele ar de "não preciso de você aqui, mas, péra... não, eu preciso"; Ou aquele abraço de quem coloca o mundo no mute e vamos nos aquecer. Aprendi muita coisa com Alba, mas a última e mais importante, é que não podemos ter tudo o que queremos. Ainda que buscasse jamais prendê-la a mim enquanto juntos, por prezar a liberdade e individualidade de cada um, não esperava vê-la partir tão subitamente como chegou.

Se eu disser que já não gosto, que não sinto saudade ou não tenho a esperança de estar com ela novamente, mentirei. Mas também não posso jamais deixar de me permitir enxergar no céu outras estrelas. Lamento a última conversa que não tivemos e a saudade do que poderíamos ter sido, mas agradeço pelo tanto que me fez sentir-me vivo dentro do tempo em que estivemos juntos.

O Diálogos Vitruvianos continuará vivo e falando sobre sentimentos. Um pouco menos sobre Alba, mas, provável, ainda bastante sobre Pedro*. Continuo acreditando no coração das pessoas, se o mundo precisa de mais amor e romance, vou tentar continuar semeando bons sentimentos. Obrigado a todos por acompanharem os escritos desse pseudo-escritor que aqui vos fala. E vamos rumo aos próximos 100 dias!

Vitor Vilas Bôas

*Pedro e Alba são nomes fictícios, é óbvio.



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Segue seu coração...

(Para ouvir enquanto lê: Say - John Mayer)






Fim de tarde de um sábado qualquer. Pés na areia, as ondas apenas beijavam as pedras quebrando o silêncio da praia quase vazia. No horizonte um sol tímido que, entre o mar e algumas nuvens, se despedia colorindo o céu de tons variados. A Lua já se conduzia lentamente ao seu posto. Com o azul ainda predominante, sua luz brilhava de mansinho. Subia, venturosa, até se encontrar ao lado de estrelas que logo viriam a aparecer. Pedro admirava tudo aquilo sentado, como um espectador solitário de um filme sem personagens.

Havia uma música. O ritmo era lento, compassado. Um blues saudosista que vinha de dentro de seu peito, talvez. Ou de sua cabeça. Talvez. Não tinha certeza. Há muito não escutava seu coração. Não que ele não dissesse algo, dizia todos os dias a mesma coisa. Em um mundo de tantas incertezas, de tantas mudanças, uma coisa não mudava. A certeza de que seu coração ainda batia por Alba. A mesma certeza de quando se encontraram a primeira vez, de quando lhe disse que era ela quem ele sempre sonhou. Alba era especial. O mundo lhe apresentava centenas de possibilidades, mas a ele não cabia escolher, apenas sentir. E sentiu.

Pedro, de tantos defeitos e manias chatas, foi ele mesmo. Errou algumas vezes, como ainda erraria outras tantas. Não sabia ser diferente daquilo. Coração bobo, sorriso fácil, sempre pronto a dar abrigo em seus braços... Sucumbiu à imensidão do vazio do último abraço que não deu. Buscou em si as respostas, como se se vestisse de culpa por não ter sabido dar a felicidade que achava ela ser merecedora. Talvez. Pode nunca saber.

Naquele dia ele despiu-se da dor que lhe acompanhava. Mergulhou dentro de si o mais fundo que pôde e resgatou Alba à superfície de seu peito. Beijou-lhe as mãos com ternura e sussurrou um pedido - Segue seu coração... -. No fundo ainda tinha esperança, aquele adeus nunca lhe pareceu sua verdadeira intenção...