segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O que diz seu coração

(Para ouvir enquanto lê: I'll be your man - James Blunt)




Desista de se esconder por detrás dessa angústia de não saber o que quer. Enquanto seus pés apontam em outra direção, sua pele ruboriza só em ouvir falar meu nome. Me pede para viver minha vida, mas é a primeira a sorrir quando digo que era a bagunça que em mim fazia, o motivo para eu ficar. Não disfarça esses olhos que brilham diamantes ao me ver passar, porque esse orgulho bobo de menina segura se perde sob seus óculos escuros. Engole esse soluço seco, bebe mais uma dose de teu vinho preferido e vem brindar comigo o doce sabor de sermos nós dois a dançarmos sob o som que embala nossos corações.

Para de tentar controlar a saudade do calor que sentia ao tocarmos nossos lábios. Sei que ainda arde em brasas tua pele, na lembrança de minhas mãos que percorrem tuas curvas como o curso de um rio a desaguar em tua foz. Não há esforço que valha, que faça teu corpo não estremecer, ao lembrar minha barba roçar tua nuca, te cerrando os olhos e te encharcando os lábios. Não tente esquecer os corpos entrelaçados, desnudos sob os lençóis de seda nas madrugadas em claro, transpirando e gemendo e gozando e amando... Ainda vive em você o repouso em meu peito que amparava o teu sossego, era sob meus braços que teu sono chegava aquecido e protegido do mundo lá fora.

Traz de volta à superfície do teu peito aquele amor que é só meu. Sei que o esconde em algum canto, talvez por trás daquela caixa com teus sonhos adiados, embaixo da estante onde guarda as fotos do tempo presente que teima em não viver. Você é quem melhor sabe que aquele seu sorriso bobo sobre os meus planos era o que te fazia contemplar um amanhã com gosto de esperança. Só você quem sabe que, se meus olhos hoje veem um caminho sem cor pela frente, é porque os pincéis que guarda no bolso ainda estão embebidos das tintas que pintamos nossos primeiros passos. Larga esse orgulho de lado, joga para o alto a incerteza da estrada a caminhar e vamos voar até onde nossas asas nos levarem. E assim façamos do nosso futuro: primeiro até amanhã, e depois até o dia seguinte. Daí deixa a vontade mostrar até quando.



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Sossego

(Para ouvir enquanto lê: You - Donavon Frankenreiter)





"Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida [...]". Um desejo tenaz clichê entoado por vozes como as de Cazuza, Cássia Eller, Bethânia e Gal, mas de um significado tão presente no peito de muita gente. Nem precisa ser a idealização de um amor romântico para viver esses versos, mas tem horas que tudo o que buscamos é o mais puro sossego de um coração embalado por várias das canções melódicas que se pode tocar nas rádios.

Sabe aquela hora em que olhamos para dentro de nós e vemos um coração cansado de envolvimentos efêmeros? Sexo pelo puro prazer do sexo, em que mãos, pele, suor, tesão e atração se misturam é sensacional. Mas e o dia seguinte? Bate aquela vontade de curtir uma preguicinha boa, ouvindo Bob Dylan invadir o quarto, enquanto as cobertas voltam a disfarçar o vento frio que teima em entrar pela fresta na janela. E é lá, por debaixo dos lençóis, que sente-se toda a diferença. Aquele encaixe perfeito de braços, pernas e quadris que aquece os corpos, em que, maior que o tesão, a paixão fala mais alto.

São as pequenas coisas que fazem mais falta. Uma mensagem no meio da tarde só para dizer que sentiu saudade; a pipoca e o filme num sábado à noite e, entre um punhado e outro, um beijo com sabor de um doce sorriso salgado; as viagens de fim de semana à praia, ao campo, ao céu; até mesmo os ciúmes que nunca chamamos de ciúme, mas de "tô abrindo seu olho porque esse(a) menino(a) tá a fim de você". Tem momentos que só o que precisamos é a certeza de poder contar com alguém que possa enxugar nossas lágrimas, dividir nossas alegrias e brindar nossas conquistas. E isso sem precisar pedir nada em troca. A doação já é mútua e natural. O entrelaçar dos dedos num inocente passeio de domingo no parque já é prova maior daquilo que precisamos para ligar nossos corações.

O prazer de contemplar o mundo a dois, caminhando sem pressa, dividindo a vida, o travesseiro e os sonhos, é o que faz querer dar esse sossego ao peito e, a partir daí, "transformar o tédio em melodia". Chega uma hora que o coração pede abrigo.