segunda-feira, 5 de maio de 2014

Deixar partir

Hoje, 05 de maio, seria o aniversário de 59 anos de meu pai. Há pouco mais de um ano, ele dava seu último suspiro deitado em sua cama. Sua saúde nunca foi das melhores, mas os dias se sucediam e eu via como sua vida definhava. Nada podia ter feito. Nada! Nós fazemos o nosso próprio caminho. Não adiantam os conselhos, não adiantam os puxões de orelha, nem pegar pelo braço e querer mostrar qual o melhor caminho que se deve tomar. Talvez o caminho que eu queria não era o mesmo que ele havia escolhido seguir.

Nessa jornada, muitas lágrimas escorreram dos olhos. O coração inquieto, a alma amiudada, a voz sempre embargada. Tropeçando pelo caminho em cada lembrança de objetos, lugares, situações. Cada tropeço uma queda. E, toda vez, a demora de me levantar. Me abraçava a mínimos detalhes do cotidiano que remontavam ao passado e à vida que levava. Não era perfeita. Porém todo o tempo tinha um pilar de sustentação que não deixava a aura baixar. Mas, e depois? "O que será da minha vida sem ele?" - Lembro bem das palavras da minha mãe pouco depois de confirmar-lhe seu adeus. Dia após dia esse "e depois" se repetia. Nessa espera incessante do depois, ia vendo o tempo passando, as pessoas passando, a vida passando... O que não deixava partir era a dor da perda, a dor da ausência, da saudade que teimava em fazer parte de minhas memórias.

O que eu jamais imaginaria era que eu precisasse perder outra coisa para perceber que necessitava domar essa dor em mim. Que eu não estava verdadeiramente pronto para assumir um outro papel de relevância se não deixasse, antes, partir o que me prendia às lembranças. Tenho buscado trabalhar meu espírito e assim lidar melhor com o mundo à minha volta. Tenho deixado a saudade somente para o que um dia volta. Para todo o resto, as lembranças desempenham a sua função. Jamais perderá a importância o que meu pai representou em minha vida, mas hoje já consigo não chorar ao lembrar de seu rosto. É preciso deixar partir. No coração deixo espaço agora só ao que está por vir.



4 comentários:

  1. deixa partir...
    ...e deixa vir! ;)

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  2. Deixar alguém partir é doído, mas o tempo traz o refrigério da alma.

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  3. Confiemos no Tempo, sim Tempo com letra maiúscula, o nome do orixá raro, ancião, que pouco aparece, mas que cuida do nosso tempo cronológico. Se entregue, confie em Tempo, a sabedoria anciã não nos deixa em vão nunca!
    Tempo é "compositor de destino, cantor de todos os ritmos, tempo, tempo, tempo...

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  4. Lembrei do meu pai..em cada situação que descreveu..sim, não podíamos fazer nada. O vazio existe, parece que um pedacinho da gente foi arrancado né?! Vida que segue pros que ficam

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