terça-feira, 12 de abril de 2016

Pequenas coragens amorosas

(Para ouvir enquanto lê: Hiding my heart away - Adele)



"Gente... ontem bebi demais, abri o whatsapp e mandei uma mensagem me declarando apaixonado pela garota que gosto. Ainda tô sem graça e sem cara para abrir lá novamente com receio da resposta à besteira que falei..."

Quantas histórias já escutamos parecidas? Amigos, primos, irmãos, gente desconhecida... todo final de semana um novo mico se torna conhecido. Mas será que, no fundo, essa bobagem feita não é apenas mais uma vontade enrustida que vem à tona, encorajada e potencializada por efeitos alcoólicos? Aquela velha desculpa da bebida já nem convence mais de tantas histórias corriqueiras que escutamos. E uma coisa é certa, a pessoa perde carteira, esquece onde estacionou o carro (importante: se beber não dirija), não consegue andar meio metro em linha reta, não acerta encaixar a chave na fechadura da porta de casa - quando se lembra onde mora -, mas, milagrosamente, encontra o nome da pessoa na agenda do celular (o mesmo que não consegue diferenciar se está filmando ou tirando foto) e escreve uma mensagem enorme lembrando da viagem que fizeram à praia no feriado de Tiradentes a 5 anos atrás.

Fonte: arquivo pessoal


Qual o problema em termos pequenas coragens? Aliás, quando foi que declarar paixão a alguém se tornou um ato de coragem? Em tempo de amores líquidos, ter um sentimento sólido se tornou um ato de rebeldia! E digo mais, nesse caso, ser líquido em nada tem a ver com fluidez, mas sim com o fato de não se ter algo palpável, que não se pode estender a mão e ter a firmeza de um terreno certo onde se pisa. Por que temos tanto medo de falar sobre os nossos sentimentos? Estamos deixando o individualismo, um dos grandes males do século XXI, nos tirar a vontade de viver grandes histórias a dois. Preferimos a certeza do trivial do que a incerteza de um mundo novo, que nos pode oferecer tanto algumas tristezas, como também plenas alegrias. Será que vale o risco? Depende de quanto seu coração está disposto a encarar outros caminhos.

E essa tal de reciprocidade? Palavrinha que vem assustando àqueles que teimam em acreditar no amor. Ou melhor, a ausência dela. Afinal, que louco seria se gostássemos na mesma intensidade da outra pessoa, não é?! Mas, se a gente não se permite nem mesmo querer estar com alguém, como vai saber se há algum sentimento recíproco? Não espera a primeira bebedeira para dizer que gosta não! Esquece o celular, larga esse facebook de lado, se veste com o seu melhor sorriso e diz olho no olho o que sente. As palavras sempre ficam em segundo plano quando o olhar começa a falar. E é justamente esse brilho o verdadeiro termômetro do que o coração diz.