quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Das delicadezas que as incursões musicais me trazem – Parte 2 de 3

Dando continuidade às incursões ao mundo alternativo da MPB, hoje tem mais cinco nomes de músicos sensacionais mas ainda desconhecidos do grande público.


Imagens da internet. Não tenho propriedade sobre elas, caso seja autor ou esteja em uma delas e sinta-se incomodado, entre em contato que providenciarei retirá-la.



6 - Silva


Esse capixaba de 27 anos com um nome tão comum, tem se destacado por onde passa. Na estrada desde 2009, lançou seu primeiro CD em 2011 e, desde então, vieram mais três. Com 6 anos de idade, começou a aprender a tocar violino e, aos 7, piano. Apesar da formação erudita, mescla sua sonoridade entre a MPB e a música eletrônica, abusando do uso de sintetizadores em suas composições. Do seu último CD "Vista pro mar", destacam-se "Maré" e "Ainda".



7 - Igor de Carvalho


Cantor e compositor de um dos maiores celeiros musicais do país, esse recifense de 25 anos traz em suas canções a relação que tem com as religiões de matriz africana. Caetano Veloso, Tom Zé e Lenine são alguns dos artistas em quem se inspira e busca sintetizar sua influência do tropicalismo. Lançou apenas um CD, o "A TV, a Lâmpada e o Opaxorô", mas é desses de se fechar os olhos e se deliciar do início ao fim! Destaque para "Samba de todas as crenças" e 'Responde".



8 - Rubel


Rubel começou a fazer música quando morou em Austin, capital do Texas. Em 2014 lançou o CD "Pearl", nome justamente da república onde morou, prestando uma homenagem aos meses em que captou o melhor do indie, folk e mpb. Carioca de 23 anos, Rubel é claramente um nome que ainda será muito lembrado. "Mascarados" e "Quando bate aquela saudade" são duas belas pérolas no álbum de 7 faixas.




9 - Alice Demier


Alice Demier lançou em 2012 o seu único CD, o "Sou eu", álbum que reúne apenas 7 canções. Descobriu-se cantora por acaso, depois de compor sua primeira música e ser encorajada por amigos a soltar a voz. "Menino Azul" <https://soundcloud.com/alice-demier/meninoazull> (minha preferida) e "Canção para o meu amor" são duas das músicas apaixonantes desse CD.




10 - Tiganá Santana


Em 2010, o baiano Tiganá Santana lançou seu primeiro CD "Maçalê". Sua voz é de uma elegância inconfundível, trazendo consigo a influência do candomblé em suas canções, bastante perceptível em seu CD "Tempo & Magma" (2015). Sua afinidade com questões ligadas à representatividade do povo negro vem da influência de sua mãe, a educadora Arany Santana, hoje diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias, em Salvador. De um CD todo espetacular, não cabe escolher dois apenas para citar, portanto deixo aqui abaixo o link para o cd inteiro.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Das delicadezas que as incursões musicais me trazem – Parte 1 de 3

Como todo bom curioso e apreciador de música, de vez em quando caminho pelas veias alternativas do cenário musical nacional. Sabe essa galera que não está nas grandes mídias, não emplaca canções atrás de canções nas emissoras de rádio e, quando aparece em algumas cidades para fazerem um show, acaba não atraindo milhares de seguidores gritando seu nome, levantando cartazes e enfrentando a histeria generalizada de seus fã-clubes? A MPB tem nos trazidos ótimos nomes nesses últimos anos e que tem feito relativo sucesso por onde passam. Cícero, Tiago Iorc, Maria Gadu e Céu são alguns desses artistas que tem recebido grande destaque da mídia especializada, porém há outros nomes que vale muito à pena acompanhar e não têm estampado as capas de revistas de cultura. Que tal dar um passeio por toda a beleza e sonoridade dos trabalhos dessa nova geração ainda escondida do grande público?


Imagens da internet. Não tenho propriedade sobre elas, caso seja autor ou esteja em uma delas e sinta-se incomodado, entre em contato que providenciarei retirá-la.



1 - Dinda


Surgida em 2009, no Rio de Janeiro, é formada por João Bernardo (idealizador do projeto), Marcelo de Sá, Beto Callado e Matias Zibecchi. Lançaram seu primeiro CD em 2011, chamado "Ano que vem eu vou ser na avenida o palhaço que eu fui na sua vida". Nome bem dramático, hein?! Destaques para as músicas “O amor vem de longe”, de onde retiraram o nome do CD e “Queria me enjoar de você”.



2 - Luiza Brina

Em 2011, junto com o grupo O Liquidificador, lançou o CD "A toada vem é pelo vento". Mineira, mas residente no Rio de Janeiro, carrega em suas canções uma mistura de sonoridades que vão desde a salsa, passando pelo xote, o samba e uns toques de música caribenha! Vale à pena dar uma conferida em "A praça no meio do mundo" e "Aurora".



3 - Castello Branco

Em 2004 foi um dos fundadores da banda R.Sigma, lançando seu primeiro CD 5 anos depois, o "Reflita-se". Seguiu em carreira solo a partir de 2011, lançando seu CD independente em 2013, chamado "Serviço". "Crer-Sendo", "Necessidade" e "Kdq" são três das pérolas desse trabalho que vale fechar os olhos e se jogar na sonoridade delas!



4 - Bibiana Petek

Com 22 anos, a gaúcha de Porto Alegre, tem como espelhos musicais nomes como Chico Buarque, Cássia Eller, Hermeto Pascoal e Martinho da Vila. Em 2014, foi vencedora do prêmio Deezer ABMI de Novos Talentos pelo seu excelente trabalho com o CD "Dengo", de onde dá para destacar a música homônima e "Desavença".



5 - Duca Leindecker

Ex-vocalista da banda Cidadão Quem e com o histórico de ter sido parceiro de Humberto Gessinger no duo Pouca Vogal, tem 45 anos e três décadas de estrada musical. Além de música, se aventurou na literatura lançando o "A casa da esquina", livro já na sua 12ª edição e mais outros dois. Seu mais recente trabalho é o CD "Plano Aberto", com destaque para "Brutalidade e Sol" e "Certeiro".




sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Parem de romantizar o abuso!

“Eu te amo tanto que vou te matar”. 40 mil curtidas. 14 mil compartilhamentos. Mais de 2 mil comentários feitos, em sua maioria por jovens. Jovens esses que, provavelmente, em sua grande parte, nunca experimentaram a vivência de um relacionamento que tenha durado mais de dois verões. Jovens que não fazem ideia que romantizar essa frase é perpetuar a concepção do amor banalizado, um amor doentio, em que vale absolutamente tudo para ter a atenção da outra pessoa, inclusive atentar contra sua vida.

Para preservar a página em questão, a fonte não será citada.


Eloá, Daniella Perez, Sandra Gomide, Mércia Nakashima, mulheres com histórias diferentes, mas com o mesmo fim. Em estudo do IPEA, entre 2009 e 2011, no Brasil, as "mortes por conflito de gênero" mataram mais de 20 mulheres por dia. Em 2014, foram mais de 50 mil denúncias de violência contra mulher, em torno de 136 denúncias por dia, 5 a cada hora. Isso os que são elucidados e classificados desta forma, porém, nessa estatística, não entram as queixas retiradas e o medo da represália por conta da denúncia. Até quando a sociedade irá relativizar a expressão “em briga de marido e mulher não se mete a colher”?


“Se você não for meu (minha), não será de mais ninguém”. Enxergar uma fala dessas como prova de amor é transformar o sentimento de posse como condição para se construir um relacionamento baseado na objetificação do indivíduo. Ninguém ama um objeto. Ninguém encontra o outro numa prateleira de supermercado, compra, usa e, quando não lhe serve mais, joga fora. Ciúme exacerbado é doença, perseguição não é persistência, controlar é completamente diferente de cuidar. No amor não há obsessão. Romantizar o abuso é ser conivente com práticas que só robustecem o machismo e continuam matando milhares de mulheres todos os anos. Isso não é amor e nunca será.


Arquivo pessoal



Para saber mais:

http://www.compromissoeatitude.org.br/

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&id=19873

sábado, 19 de setembro de 2015

Raul & Theo: Enquanto houver nós

(Para ouvir enquanto lê: Your love is mine - Corinne Bailey Rae)



Sentados sob as estrelas e com a vastidão do mar como companhia, quebrou o silêncio de suas vozes ao sorrir baixinho e entrelaçar-lhe os dedos.
- Posso te pedir uma coisa?
- Uai. Pode... - Theo franziu a testa, com um ar de espanto.
- Promete que, enquanto eu for capaz de despertar o seu sorriso, enquanto meus lábios formarem um encaixe perfeito nos seus e poderem saciar, em beijos, sua sede de amar, você não desiste de mim?


Pensativo por alguns instantes, talvez ainda sem entender aquele rompante de um garoto inseguro, mesmo com tantas certezas que ele já dera em querer estar ao seu lado, respondeu:
- E porque eu desistiria?
- Eu sou imperfeito. - disse Raul, retraindo o corpo como se tentasse se proteger - Tenho tantos sonhos inacabados, desejos reprimidos... Tanta vontade de viver algo maior, mas com medo de não dar certo...
- Ninguém entra na vida da outra pessoa por acaso. - Theo respondeu deitando a cabeça sobre seu ombro esquerdo. - Vivemos em constante aprendizado. Os erros, os acertos, o tempo todo buscamos encontrar o equilíbrio dentro de nós. O problema é que nem sempre conseguimos alcançá-lo sozinhos. Essa é a importância das pessoas que cruzam nosso caminho: despertar em nós uma consciência fora da nossa concha.


Levantou-se trazendo Raul consigo e aconchegando-se em seu abraço, continuou:
- Não sabemos do amanhã. Hoje, tudo o que eu mais desejo é continuar caminhando ao seu lado. Aprender contigo a ver o mundo de forma mais leve, com mais flores no caminho, com mãos dadas e gestos de amor. Mas também te ensinar a se jogar mais no mundo, a viver mais intensamente a paixão que nos envolve. Sendo assim, não prometo não desistir de você. Prometo não desistir de nós! Enquanto pudermos aprender um com o outro, enquanto mantivermos o equilíbrio de sermos eu, você e de sermos nós, prometo não soltar a sua mão. E aí? Topa?

Fonte: http://ocoracaocanalha.tumblr.com

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Ele era um cara comum e invisível – e foi exatamente isso que me conquistou (por Aline Xavier)

Não era bonito como o Barry Sloane e o Gabriel Mann, não falava “jargonês” como os doutorandos da faculdade em que me formei, não se vestia como um modelo da Reserva e à primeira vista, obviamente, não me chamou a atenção em nada. Passava despercebido pela multidão com extrema facilidade. Mas algo em mim o agradou – o que fez se aproximar e me convidar pra um cappuccino, sábado à tarde, naquela cafeteria próxima do centro, na área hospitalar da cidade. E eu, disponível e sem maiores pretensões, aceitei.
Ele não era cavalheiro, daqueles que abrem a porta do carro e puxam a cadeira pra mulher sentar. Mas era atencioso e muito carinhoso, e isso definitivamente me enlouquece. Depois de cinco cafés – sim, eu tenho esse vício – comecei a mudar o meu conceito sobre ele.
Ao contrário dos outros encontros, eu não fiquei insegura, pois não estava lidando com um cara que tinha beleza nem inteligência além do normal. Daqueles que gostam de se mostrar fortes e invencíveis, verdadeiros super-homens. Nada disso. Ele estava no mesmo nível que eu, e isso me tranquilizou.
Confessou que às vezes dá má nota no trânsito, que é desorganizado e às vezes se perde no meio das suas coisas, que vez ou outra fica nervoso diante de uma mulher na primeira vez com ela, que se atrapalha ao falar sobre ele, que namorou menos do que gostaria.
Sempre desconfiei daqueles encontros que parecem ter sido milimetricamente ensaiados. Nos quais não há espaço para tropeços, atrasos ou palavras equivocadas. Em que ambos falam um português irretocável e fazem de tudo pra mostrar que são pessoas perfeitas. Porque não são. Porque ninguém é. A máscara de ser humano impecável costuma cair antes do terceiro mês de convivência. E quem idealiza, muito se decepciona. Mas como não criar expectativas nem fazer de tudo para estar à altura de quem se porta como superior e infalível? A gente acaba entrando, de forma inconsciente, num ciclo de competição interna, pra se mostrar “a pessoa certa” pro outro. Só que a pessoa certa e o relacionamento certo não existem. Dar certo é algo que se constrói diariamente, com cumplicidade, respeito e transparência, principalmente.
Pedimos a conta e, enquanto o atendente providenciava as máquinas de cartão, ele chegou mais perto. Nossas bocas se aproximaram, eu o puxei pra mais perto ainda – pois vi que estava tímido e ansioso – e sem querer eu mordi a sua boca. Um pouco forte demais. “Vamos tentar de novo?” – perguntei. E ele fez que sim com a cabeça. Ficamos mais próximos do que antes, e dessa vez os nossos dentes se bateram – eu estava muito afoita. “Não vamos deixar esse pequeno incidente estragar tudo, né? A gente tava só ensaiando. Agora vai, tenho certeza” – ele me garantiu. E foi.




ALINE XAVIER
Ex-concurseira olímpica. Psicóloga para os amigos, não sabe o que fazer com a própria vida. Apaixonada por ovelhas negras, com as quais comumente se identifica. Está na jornada em busca do seu propósito. Escreve sobre um pouco de tudo no seu site (alinexavier.me), no Superela, no blog O quinto Andar e na sua fanpage (facebook.com/alineandxavier).

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Os opostos se distraem

(Para ouvir enquanto lê: Everything you want - Vertical Horizon por Boyce Avenue)



No rádio uma velha canção embalava seus sorrisos a luzirem sob as estrelas. Seus corpos entrelaçados balançando a rede na varanda, enquanto os planos de um amanhã a dois brotavam a cada novo gole do seu Cabernet favorito. Seus olhos fitavam o horizonte, vasto e infinito como o amor que inventaram para si...

Compreender o amor não fazia parte dos seus pensamentos naquela noite. Enquanto ele pensava nas inúmeras possibilidades de lugares para conhecerem, ela sonhava com a casa avarandada com vista para a serra. Enquanto ele queria desbravar novos caminhos em uma natureza interminável, ela só pretendia ter um beijo de despedida e um desejo caloroso de um bom dia antes de ir trabalhar. Enquanto ele era temporal, ela era brisa. Enquanto ele era rush, ela se encantava com o silêncio madrigal.

Ainda assim brincavam de amar. Iludidos pela total distância entre seus quereres, talvez esperançados de que suas gritantes diferenças os alçassem a um patamar de equilíbrio por serem tão opostos. Aprenderam, quando ainda novos, que “opostos se atraem”. Só esqueceram de ler nas entrelinhas que se tratava de uma lei da física, e não é bem assim que funciona nas relações. O que os faziam ser tão diferentes e que tanto encantavam-nos foi se esvaindo, escorrendo pelas mãos como grãos de areia. O que antes fazia sorrir, ganhou contornos duros e de malfadadas feições...

- Por que você não pode mudar?
- Esqueceu que me conheceu assim?
- Mas eu pensei que...

Pensou que... o outro pode mudar porque já não o agrada mais da mesma forma? Ninguém é obrigado a estar com alguém que goste sempre das mesmas coisas, ter as mesmas ideias, os mesmos pensamentos... Convenhamos, logo logo se tornaria a relação mais entediante do mundo. Mas moldar o outro de acordo com seus gostos? Nem moldar e nem deixar ser moldado, ok?! Somos reflexos de nossos sonhos, nossos desejos. Somos personagens principais da nossa própria história.


Carência faz ver amor onde não tem. Hoje em dia, fabricamos o amor que queremos a cada esquina, a cada novo beijo, a cada novo abraço que ganhamos. Mas amor não é meramente um querer, é sentir. E estamos perdendo essa capacidade a cada instante que optamos por enxergá-lo mais como necessidade do que como consequência. E quanto mais nos iludimos, mais distantes nos permitimos chegar do que o seu verdadeiro valor pode nos proporcionar.

Fonte: observatoriodeventos.files.wordpress.com