sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Românticos: Uma espécie em extinção?

(Para ouvir enquanto lê: Românticos - Vander Lee)



Falar em homem romântico é, automaticamente, cantarolar Vander Lee: "Românticos são poucos, românticos são loucos desvairados [...] Romântico é uma espécie em extinção". E mais, enquanto o termo é constante no vocabulário feminino, do lado masculino se encontra praticamente em desuso, junto aos verbetes antigos, ao lado de "vossa mercê" e "por obséquio". Porém, estar em risco de extinção não é estar extinto.

Aos desavisados de plantão, declaração de amor no facebook não é romantismo, ok?! Abrir porta do carro, levar para jantar em um restaurante recém-inaugurado do outro lado da cidade e ainda pagar a conta, também não é. Ser gentil, prestativo e companheiro, deveriam constar em todos os manuais do homem moderno, mas ainda há aqueles que preferem usar o que seus antepassados neandertais cravavam nas paredes das cavernas.

Homens, por favor, sem exageros! Pequenos mimos até agradam, mas cuidado para não babarem tanto sobre suas amadas a ponto delas terem de comprar um barco para conseguirem ficar perto de vocês. Fazer aquela voz ridícula parecendo estar falando com uma criança de dois anos ou apelidos do tipo "tchutchuquinha", "pão-de-mel", "pão-de-ló" ou "quindim", são seu ingresso para a primeira fila do filme dos Ursinhos Carinhosos. Convenhamos, um apelido engraçadinho que fique só entre vocês é até aceitável, mas ouvir gritar do outro lado do corredor do mercado um "Docinho de Cooooco, leva azeitona?" é sinônimo de sofrer de vergonha alheia para os outros clientes.

Romantismo não se força, não se finge. Está atrelado à paixão, mas não àquela paixãozinha que você vira a esquina, guarda no bolso e só tira quando vai encontrá-la novamente. Falo de paixão de verdade. De suspiros, de sonhar acordado, de virar a mesma esquina e querer voltar correndo porque a saudade já começou a apertar. Paixão de olhar nos olhos da pessoa amada e enxergar um futuro muito mais distante que o dia seguinte. E aí, da necessidade de ter aquela pessoa ao seu lado, da vontade de ser e fazê-la feliz, é que desperta o ser romântico.

Um convite para contemplar a Lua, mesmo que por telefone, pois estão a quilômetros de distância um do outro. Um brilho diferente no olhar, seguido de um sorriso que diz - "Hoje meu mundo está mais feliz" - a cada reencontro. Um carinho seguido de um abraço apertado e um pedido de desculpas ao assumir que estava errado (até mesmo quando "certos vão pedir perdão"). Ser romântico é mais do que ser companheiro, incentivar sonhos, planos. Mais do que post-it's pela casa, flores novas toda semana e esquecer a vergonha de dançar no meio do salão mesmo sem saber dançar. O romantismo é primo irmão do amor. É despertar de manhã e, antes de agradecer por um novo dia, olhar para o lado e ter a visão mais perfeita e sorrir pela sorte de ter quem se ama junto a si. Ser romântico é segurar a mão e saber a hora certa de soltar. É entrelaçar os dedos por entre os cabelos e desfazer os nós, e refazer o nós.

Românticos podem até ser raros. Mas, mais raro ainda é encontrar alguém disposto a viver um amor de verdade que faça despertar o ser romântico. Aos homens, não tenham medo de amar. Às mulheres, não tenham medo do amor.

Fonte: http://goo.gl/POYYlC

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Talvez não devesse, mas ainda te amo

(Para ouvir enquanto lê: Eu amo você - Tim Maia por Céu)




Não adianta lutar contra. Já tomei porres homéricos em botecos sujos pela cidade, já me esbaldei em baladas até o amanhecer, já me isolei por dias no meio da natureza em busca do meu eu interior. Tomei banho de mar, de ervas, de pipoca, de folha de aroeira e até de água benzida pelo papa. Conheci Júlias, Antônias, Cristinas e Marias... Mas bastou encontrar um bilhete seu perdido entre meus livros - que eu teimo em nunca terminar de ler - para que o coração caísse no fundo abismo que cavei na intenção de te esquecer.

Naquele pedaço de papel marcando uma página do Leminski, sua escrita de letras tortas não dizia muita coisa. Mas sim, dizia muita coisa. Tinha sabor de fruta madura colhida no pé, daquela bem doce, que não somente sacia a fome, mas acalenta a alma. Tinha o aroma de um campo de brancas gardênias, de sutil perfume a abrandar até o mais irrequieto coração. Era como uma orquestra de bem-te-vis invadindo os ouvidos, passeando na aurora do dia, com o descerrar de nossos olhos. Olhos que sorriam com o bilhete que marcava seu poema favorito, de onde um dia me dedicou aquele trecho. - "Basta um instante... e você tem amor bastante".

E, de repente, a nostalgia. Lembranças do que fomos e do que poderíamos ter sido. Aqueles sonhos interrompidos, planos não realizados, viagens que não saíram do papel. Brincávamos de sermos felizes. Brincávamos porque, de séria já bastava a vida. Felicidade é sinônimo de sorrisos, muitos sorrisos. De cócegas surpresas no meio da rua, de caretas durante as não raras discussões pela toalha molhada sobre a cama ou a calcinha pendurada no chuveiro. Até mesmo quando você se estabanava de rir no chão ao me ver imitar o Sílvio Santos - até hoje acho que fazia só para me agradar. Fazíamos de nossa vida um sonho bom, dispostos a sermos rainha e rei de nosso próprio destino.

Talvez, por ironia do destino, aquele bilhete que de tanta alegria me fez lembrar, me trouxe algumas lágrimas a lavarem meus olhos. Acho que o próprio Leminski que um dia disse: - "A noite enorme, tudo dorme. Menos teu nome" - E assim, de tanto adormecer com seu nome acordado em mim, talvez não devesse, mas, desculpa, ainda amo você.


Fonte: http://bfontes.tumblr.com/

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Redemoinho

(Para ouvir enquanto lê: Believe - Lenny Kravitz)






"Os ventos que às vezes levam algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar [...]". Quem nunca se deparou com essa frase? Talvez com uma pequena variação aqui ou ali, mas sempre denotando o mesmo sentido: as idas e vindas da vida.

Quanto mais distraídos andamos, maior a possibilidade de surgir em nossa frente aquilo que um dia tanto quisemos. Claro que fugindo um pouco da questão do mérito, para com o que lutamos ou nos esforçamos em conquistar um determinado espaço. Mas tem horas que, a mera distração, o não esperar que surja e, de repente, pronto! Nos deparamos de frente com A oportunidade. Um trabalho, uma viagem, alguém inesperado... Mas como perceber já que estamos tão distraídos? Não percebemos! Simplesmente, assim como o vento pode mudar repentinamente de direção, a vida te coloca frente a frente com aquela oportunidade. O que fazer com ela é a grande questão. Às vezes, na incerteza, insegurança daquilo que nos está sendo proporcionado, fazemos o mais óbvio: deixamos passar. O medo do novo, o conservadorismo, o que as pessoas em volta podem dizer e a segurança do que já existe, do caminho que já percorremos até ali, nos fazem paralisarmos frente àquela nova rota que nos é apresentada. Por que mudar?

Bom é quando a vida nos apresenta mais que um simples vento, que não se limita a soprar para longe aquilo que poderia nos fazer transformar o nosso rumo. Bom é quando esse vento se torna redemoinho. Uma segunda chance. Nos traz de volta a oportunidade da felicidade, daquilo que outrora nos satisfaria plenamente e que novamente se mostra ao nosso alcance. Fácil nunca será! As mesmas indagações, as mesmas caraminholas na cabeça virão e nos deixarão parados outra vez. Mas, se nos foi dada essa segunda chance, porque não arriscar desta vez? Não deixemos o medo vencer.

Todos os dias batalhamos por nossos ideais, pelos nossos sonhos, para que nada seja em vão. Não é que as oportunidades caiam do céu, os caminhos que trilhamos fazem com que elas surjam e precisamos estar atentos a isso. Se vai dar certo ou não, só temos como saber ao encararmos de frente. Um redemoinho pode tirar tudo do lugar, apresentar o novo nos tirando de nossa zona de conforto. Nos dando uma segunda chance para que, desta vez, daqui em diante, o vento sopre ao nosso favor.