quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Nunca se apaixone por um escritor

Olá! Meu nome é Laura. Poderia ser Paula, Maria, Duda, Juli, Cacau, Samara (não a do poço, tá?!) ou qualquer outro nome. Mas é Laura desde que eu me conheço por gente. Vim aqui para fazer um alerta. Escutem, digo, leiam bem o que eu digo: NUNCA SE APAIXONEM POR UM ESCRITOR! Sério! Nunca! Never! Je! Ikad! Nogensinde! Mai! Ooit! Jamais! Nunquinha! Nem que a vaca tussa! Falo por experiência própria...

Falo dos escritores de verdade, tá?! Não aqueles que te mandam bilhetinho com frases de Caio Fernando Abreu ou Tati Bernardi (é até fofinho, mas já já vocês vão entender...) e esquecem de dar os devidos créditos, mas os que te olham nos olhos e conseguem te desnudar devagarinho só com a sensibilidade no modo que te leem. O cara pode ser lindo, maravilhoso, gostoso, um boy magia daqueles que te levam à loucura, seja através da língua (tanto a escrita quanto a... deixa pra lá) ou de suas atitudes. Tipo um Fredelícia Elboni, um Daniel Bovolindo ou o menino gato Zé de Revaldo... Relvaldo... Reuvaldo... Hellvado... Rel... daquela cidadezinha de lá do Rio Grande do Sul!

Sério! Esses caras não prestam! Têm na ponta da língua a palavra certa para te conquistar! Você pode estar se achando o parasita da mosca do cocô do cavalo reserva do bandido figurante manco do filme de bang-bang mexicano que não terminou de ser gravado por falta de verba, daí eles chegam cheio de malícia, com toda aquela suavidade na fala, e te transforma na super-heroína diva baphônica dona da porra toda! Eles têm o dom de te enxergar de um modo único! Você põe sua melhor roupa, capricha no Mary Kay, faz aquele penteado hoje-tô-pro-crime e vai encontrá-lo. Adivinhem a primeira coisa que ele repara em você? O sorriso! Putz... antes de sair de casa, me olhei no espelho e falei comigo mesma: “Tô gostosa pra CARALEOOO!!!”. Mas ele, só para te desarmar completamente, diz que seu sorriso é fascinante! Tá... depois ele também diz que você está gostosa, mas sabe aquele elemento surpresa que só eles conseguem fazer? Pois é...

Fonte: cena do filme "Ela", de Spike Jonze
Daí eles vão te conquistando aos poucos. Do nada você abre o Face e se depara com a descrição de uma cena que vocês viveram uns dias atrás. Ok! De um modo diferente, aquele bocadinho de exagero que só eles conseguem. Transformam sua bicicleta vermelha velha remendada com Silver Tape num cavalo branco saído daqueles filmes hollywoodianos. Sua rua esburacada e as vizinhas fofoqueiras passam a ser uma estrada de flores e músicos de jazz. A camiseta branca e o short jeans... bem, esses continuam os mesmos. Se por um lado eles enfeitam o seu mundo ao redor, ainda te enxergam da mesmíssima forma. Mas é um modo diferente. Digo, igual, mas diferente, sabe?! É como se o simples fosse visto como perfeito. Os olhos deles te veem como a figura mais perfeita de seus imaginários. E a gente acredita (ou finge, né?!)! Mas, o mais engraçado, é que eles também acreditam nisso.

Não sei como eles conseguem fazer isso. Chegam devagarinho, comendo pelas beiradas, te oferecem flores num dia, café no outro, te deixam ser a primeira a ler um texto novo e se importam com sua opinião se você disser que faltou alguma coisa. Aí sorriem. Quando você se dá conta, o danado já imprimiu em seu coração uma marca difícil de apagar. Desgraçado! Fofo! O que é que faço, hein?! Eles sempre conseguem encontrar a palavra certa daquela cruzadinha que você joga com sua vida. Mas não se iludam! São seres completamente imperfeitos. Tem horas que se perdem em meio às palavras e você com sua audácia de fã e dona daquele coraçãozinho mole, lhes faz um afago e eles te brindam com o melhor agradecimento do mundo! Você é a inspiração!

Fonte: pinterest
E, olha! Dezenas, centenas, milhaaaares se derretem com suas palavras. Mas saber que é você quem se torna única no livro que é a vida deles... putz! Agora mesmo estou aqui deitada no sofá, lendo Bukowski e fazendo um dengo na minha gata Dorothy (sim, a de Oz). Ele está sentado à mesa ali na frente, escrevendo algum texto no computador e bebendo o café que fiz mais cedo. Tem uns dez minutos que ele veio aqui, me deu um beijo de mansinho e me sorriu com aqueles olhos brilhantes miúdos. Sério... nunca se apaixone por um escritor... é um caminho sem volta. Mais que eternizada em suas palavras, a gente se eterniza em seu peito. Aí, quando a paixão é recíproca, a vida trata de escrever um capítulo que é só nosso.

Nunca se apaixone por um escritor... você corre um sério risco de ser eternamente feliz.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Trinta e seis vezes paixão

Ando apaixonado. Ou melhor, ando me apaixonando. Trinta e cinco vezes, para ser mais exato. Tudo começou na fila do bandejão na universidade. Você de camisa vermelha escrita em letras brancas a hashtag do Fora Temer. O cabelo amarrado num coque acordei-e-não-quis-pentear, mochila preta com os bottons da Mafalda, Frida Kahlo e do Darth Vader. Sandália de couro, brinco do hippie dali da esquina e um sorriso que se destacava em meio ao mundo de rostos saídos de qualquer revistinha de produtos Jequiti. Aliás, que sorriso!!! Seus olhos quase sumiam sob os óculos. Dizem que covinhas são consequência de uma falha genética, não é?! Agora imagine o combo: olhos que sorriem, covinhas nas bochechas e a cabeça que cede, abaixando de leve a fim de esconder-se em sua timidez. Ó, toma aqui meu coração e faz com ele o que você bem entender!

O amigo do amigo do colega do vizinho do primo de um conhecido meu tinha o seu facebook. Descobri naquela stalkeada monstra que até o Moro sentiria inveja quando não conseguiu encontrar o endereço da Cláudia Cunha para lhe enviar uma intimação. Mas, claro, preferi mandar aquela foto marota para a página do aviãozinho no facebook e trataram logo de te marcar. Malandramente, fiz aquele esquema de curtidas que aprendi nos tutoriais de paquera na internet. Afinal, você sabe, né?! Se tá na internet, então é verdade! Curti duas fotos recentes e uma de mil-novecentos-e-vovó-de-biquini. Dito e certo! Logo surgiu uma mensagem sua por inbox com a delicadeza de um coice de búfalo no meio da caixa torácica: "Desencavar foto antiga é atestado de morte certeira e fulminante! Isso foi uma tentativa de flerte?". Gente... primeiro contato e já recebendo uma ameaça de morte assim? Besha, a senhora é braba, viu?! ADORO!

Daí em diante vieram o primeiro... segundo... décimo encontro! Perdi as contas de quantos foram. Acho que já nos vimos mais vezes do que tenho presenças nas aulas. Tá bem, não sou tão assíduo, mas não perco por falta, tá?!

Fonte: br.pinterest.com

E a cada novo momento que passamos juntos é como se reavivasse um sentimento estranho dentro de mim. Mas um estranho bom. Desses que a gente não espera que venha, mas quando vem, nos pegando desprevenidos, bagunça tudo, sabe?! Só que uma bagunça que coloca as coisas no lugar. Porque a gente se acostuma com tudo fora de ordem e nos confortamos com isso. Daí vem alguém e ajeita tudo. A gente até se perde no início, mas, depois que acostuma, faz de tudo para que tudo se mantenha exatamente daquele jeito que a outra pessoa deixou.

E é por isso que ando apaixonado. Me pego fazendo planos para o próximo feriado, salvando receitas novas no computador para o nosso almoço de domingo, misturando sonhos com aqueles pensamentos que voam longe e sempre se encontrar iluminados pelo brilho do mesmo sorriso. Seus olhos me invadem, o coração dispara, meu corpo estremece, as mãos suam e eu seu. Aiai... É só pensar em você que eu já fico completamente entregue. É que eu ando me apaixonando, sabe?! Para ser mais exato... trinta e seis vezes.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Persistir sim, insistir... nunca!

Você ainda gosta dela, não é? Gosta! Mas há uma sutil diferença entre persistir e insistir. Não dá para, simplesmente, forçar a barra com alguém para que ela goste de você o quanto você gosta dela. Eu mesmo odeio me sentir um incômodo na vida de alguém. É como se a gente visse uma janela aberta no segundo andar da casa da pessoa e tentássemos invadir de qualquer jeito. E isso mesmo sabendo que há grades na sacada, uma cerca elétrica e cachorros furiosos e famintos no quintal.

Todos os sinais já foram dados. Os sumiços repentinos, os silêncios de dias no aplicativo de mensagens, as respostas evasivas para perguntas que requeriam muito mais que um "sim", "não" ou "legal". Claro que, para bagunçar sua cabeça, do nada surge aquele interesse em saber de você. Dias seguidos de um vácuo absurdo e, de repente: "Como você tá? Lembrei de você e bateu saudade!". Daí reacende aquela chama quase apagada no peito e sua mente começa a pensar em milhões de justificativas para o sumiço dela e que, incrivelmente, todas passam a ser perdoáveis. 10 minutos de conversa e... Sabe quem voltou? Sim! Ele: o vácuo!

Fonte da imagem: geradormemes.com

Persistir (no dicionário cafonântico) é quando você sabe - repito: SABE, e não: Acha que sabe - que existe um sentimento presente junto com a dúvida na outra pessoa. "Sabe" porque ela demonstra isso, faz questão de continuar próxima, que se importa contigo e não uma forma de jogar com seu coração. O motivo da dúvida já são outros quinhentos. Pode ser porque ela se embolou com os esquemas mas você é o preferido, pelo cotidiano estágio-faculdade-inglês-babá do irmão pequeno que a deixa sem tempo até para ir comer uma coxinha contigo na esquina, ou aquele medinho do apego tão simples, faceiro e corriqueiro do mundo moderno.

Já insistir... sabe aquele brinquedo de encaixar da sua sobrinha de três anos? Daí você pega a estrela e tenta enfiar pelo buraco específico para o quadrado? Então... Se ainda tiver aquele chazinho de simancol na gaveta, está na hora de colocar a água no bule para ferver...

Nem tudo é da forma que queremos. Ninguém vai gostar do outro pelo mero motivo de que o outro já gosta de você. E não vai adiantar querer provar por A + B que o culpado da outra pessoa não ter caído de amores por você é por causa da camisa do homem-aranha furada debaixo do braço do primeiro encontro. Ou porque a perna de seus óculos é amarrado com Durex ou por você sempre começar a comer a coxinha pelo fundo (seu anormal!). Às vezes foi só um momento em que a pessoa não estava aberta a se relacionar sério. Ok. Você pode ser chato pra caralho também e ela só percebeu depois. - Mas sua mãe te ama, pense nisso. - Então, desencana do que passou, vá conhecer gente nova e deixa a vida fluir. Uma hora alguém resolve ficar. Permita-se!

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Mas aquele 1% é... lerdo!

Alguns amigos me chamam de tonto. Outros dizem que se lerdeza fosse um esporte olímpico, o Brasil já teria a medalha de ouro garantida comigo. Para mais alguns, a culpa é da astrologia e meu mapa astral diz que sou do signo de lerdo com ascendente em desatenção. Mas, falando sério, quando o assunto é perceber que tem alguém flertando comigo, meu nível de esperteza vai do 100 ao 0 mais rápido do que o créu invertido na velocidade 5. Isso não significa que em 100% das ocasiões eu esteja num mundo paralelo enquanto a outra pessoa levanta uma cartaz em minha frente dizendo “fica comigo?”, ok?! Apenas que meu radar de percepções anda um tanto quanto fora de sintonia desde há muito tempo. Daí, de vez em quando, me aparece uma janelinha imaginária flutuando ao meu lado junto com aquela voz robótica do windows dizendo “suas definições de lerdeza foram atualizadas”.

Mas juro que a culpa não é minha, viu?! Acho que acostumei a ser aquele cara na adolescência que sempre era o ombro amigo quando as meninas precisavam desabafar. E olha que eu era bom nisso!
Bem… eu acho, né?! Afinal, perdi as contas de quantas vezes eu escutava um “Migo, tô triste. Vem aqui em casa que eu preciso desabafar. Minha mãe fez bolo.”. Ok, muitas vezes eu ia por causa do bolo, mas ele durava menos do que o desabafo, então eu realmente parava para escutar o que elas diziam. No final sempre rolava aquele abraço apertado e um “se você não fosse meu amigo, eu me apaixonaria por você”. – Friendzone! – alguns diriam. Absolutamente não. Antes mesmo de pensar em ter qualquer tipo de interesse por alguém, eu já era o amigo em que elas confiavam. E, convenhamos, só machistas idiotas que falam “baladinha TOP” é que não acreditam em amizade entre homem e mulher.
Fonte da imagem: arquivo pessoal
E assim fui enxergando boa parte das pessoas que cruzavam meu caminho. Levava muito mais em conta a aproximação das pessoas com a intenção de me verem sempre como aquele cara solícito, pronto para trocar boas ideias, dar altas risadas, ajudar no que fosse preciso e ser uma espécie de “Hitch – O conselheiro amoroso” na versão tupiniquim de baixo orçamento. De tanto me aproximar das pessoas sem interesses escusos, acabei tomando como verdade também o contrário. Já escutaram aquela expressão “Sou legal, não tô te dando mole” (Sim, tinha até a comunidade no orkut!)? Pois então, tanta gente legal nesse mundo e eu lá tenho como saber logo que Fulana ou Sicrana está a fim de mim? Tudo bem que é romantizar demais a ideia de que todo mundo é legal até que se prove o contrário, mas também não dá para pensar que, só porque a pessoa te deu um bom dia, você já irá imaginar até o nome do cachorro que adotará para o aniversário de 5 anos do filho de vocês.
Já aconteceu caso de, depois de 10 anos, a pessoa chegar e dizer “Cara, lembra do nosso tempo de colégio? Eu era louca para ficar contigo”. Ué?! Como assim?! E só me diz isso agora? Daí ela começa a te contar inúmeras ocasiões – e você lembra de todas – em que ela só faltava escrever na própria testa que era você com quem ela queria estar. Mas, óbvio, como todo bom astronauta do asfalto, você ria. Apenas ria. A menina linda e que todo mundo era a fim estava lá te dando o maior mole e você, moleque bobo de aparelho nos dentes e espinhas na testa, apenas sorria e pensava que era um cara de sorte por ter uma amiga tão legal. Ok. Você era realmente um cara de sorte, mas não custava nada ser sortudo e esperto também, não é?!

Não precisa ter uma placa balançando no pescoço escrita “eu gosto de você” enquanto faz 36 polichinelos – parafraseando Gabito Nunes – para que eu tenha certeza de que realmente está gostando de mim. Mas também não custa nada chegar e dizer que gosta. É que alguns sinais podem até ser bacanas, deixar no ar aquela coisa legal de que pode rolar algo, mas, sabe… 99% anjo, perfeito, mas aquele 1% é… lerdo.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Seja sua melhor companhia

Ela disse não! – Falou Renato
Como assim, cara? Vocês não estavam num rolo tão massa? – Retrucou Fernando
Sim. Mas ela, simplesmente, me disse não. Que ela não queria esse tipo de envolvimento. Seis meses ficando. Um semestre inteiro, cara. E ela disse não!
Já reparou que sempre temos aquela pessoa conhecida que nunca vemos com alguém? Relacionamento mesmo. Namoro de portão. Cinema, mãos dadas, almoço de domingo em família, sobrinhos dele chamando ela de tia na viagem de final de semana para o sítio dos pais dele. E aí? Deu agonia em ler isso? Saiba que você não está sozinha nesse mundo!
Quem disse que é preciso estar com alguém para se sentir completo? Somos seres completos e optamos por dividir ou não o nosso tempo, a nossa companhia. Tem gente que, simplesmente, não está nem aí para as convenções sociais que pregam a felicidade plena como sendo o encontro com sua alma gêmea. Será que, então, por não se encaixar nesse padrão, você irá se tornar uma pessoa amargurada, com um iceberg no lugar do coração, ser uma solteirona aos 50 anos cuidando de vinte gatos dentro de casa e completamente sozinha no mundo? Óbvio que não.
Há quem prefira estar só por causa das experiências negativas. Há quem receie perder sua liberdade. Também há aquelas pessoas que, só de pensarem em acordar pela manhã, olhar para o lado e ver aquela pessoa do melhor sexo de sua vida roncando e babando no travesseiro, veem a cena mais lamentável e traumatizante da sua vida. Há muito mais coisas por trás desse “estar só”, mas a principal delas é quão bem você se sente em estar assim. Afinal, que mal há em não querer uma escova de dente a mais em seu banheiro?
E os namoradinhos? – pergunta a avó
Matei tudo, vó!
Na sua idade eu já era casada e tinha dois filhos! – fala a tia
Parabéns, tia! Já eu, na sua idade, estou sendo feliz. Aliás, mês que vem estou indo ser feliz na Europa. Te mando umas fotos de lá!
Mas e o sexo? Ser solteira não é estar sozinha. Século XXI, baby! Já está mais do que na hora de derrubar esse mito de que sexo e amor andam de mãos dadas. Todos sentem desejo e não deveríamos nos preocupar em guardá-los e não satisfazê-los só porque alguns babacas dizem que isso não é legal. Mas espera… na prática é bem diferente do discurso. Infelizmente, nossa sociedade ainda guarda resquícios de pensamentos pré-históricos com homens andando com tacape na mão e grunhindo loucamente quando são contrariados. No sentido figurado, é claro. Mas o machismo reproduzido ainda hoje faz parte de uma cultura do pensamento patriarcal e heteronormativo. Aliás, vocês sabiam que, na Grécia Antiga, o culto ao corpo masculino era tão grande que, quando os homens queriam fazer sexo por prazer, faziam com outros homens, enquanto com mulheres era somente para fins reprodutivos? (segura essa marimba, monamour!)
Fonte da imagem: ideiamarketing.com.br
É preciso reavaliarmos o conceito de “estar só”. Há uma grande diferença entre solidão e solitude. Enquanto o primeiro é uma sensação de não se encaixar nos lugares e se sentir mal com isso, o segundo é uma escolha pessoal, a vontade de estar consigo e satisfazer-se apenas deste modo. Seu tempo é seu e ponto final. Julgar uma escolha apenas por querer para si algo diferente, não faz ninguém melhor que o outro.
Contemplar a beleza que a vida proporciona pode ser excepcional tanto para quem vive a dois, quanto para quem vive só. Não devemos esquecer que, antes de mais nada, o amor que devemos cultivar é o amor-próprio. Ele é quem irá reger o nosso caminho.
Portanto, ainda que o mundo lá fora lhe diga que é preciso se encontrar no reflexo dos olhos de alguém, pare em frente ao espelho e se veja primeiro em seus olhos. Somente você própria poderá dizer o que te completa. E sorria se a única pessoa que encontrar seja você mesma. Quem melhor do que você para afirmar o que lhe faz feliz?

domingo, 24 de julho de 2016

Aquilo que não somos

(Para ouvir enquanto lê: Tout Le Monde - Carla Bruni)






Caminho a passos lentos por medo da queda. Não que eu me importe com os machucados, mas, com um mundo cada vez mais egoísta, me preocupo em não ter quem possa me estender a mão. É um fardo imenso levar consigo um grito uníssono e quase inaudível a quem se recusa a enxergar mais do que a si próprio. Meu grito é um clamor por atenção, é quase um pedido de socorro. É por medo de ser sozinho nesse mundo que ainda tento me fazer ser ouvido.

Carrego uma mochila nas costas cheia de sonhos e expectativas e o peso das minhas escolhas é quase insuportável. Pelo caminho sempre encontro pessoas dispostas a se aventurarem e percorrerem as trilhas abertas pelos passos que dou. Todos trazem suas próprias bagagens, umas mais pesadas, outras mais leves. Poucos são os que aceitam dividí-las. A explicação é óbvia. Se recusam pelo medo de ter que carregarem mais do que suportam. Tolos. O que há em comum entre nossos desejos não se soma e sim se complementa, se compartilha, tirando o peso de levá-los sozinhos. O problema é saber quem está realmente disposto a correr os riscos que a estrada proporciona.

Fonte da imagem: tripzone.com
Aos que aceitam, devolvo sorrisos aos rostos de quem, até mim, vem com lágrimas. Permito que descarreguem suas angústias, suas tristezas, suas mágoas... é como se eu pudesse captar toda aquela energia negativa acumulada e a neutralizasse. E os próprios sorrisos que voltam a brotar em seus rostos é o que me traz a paz de saber que meu trabalho foi feito. Coloco de volta a mochila nas costas e retomo minha lenta caminhada, deixando sementes de gratidão plantadas em corações outrora vazios de esperança. A estrada é longa e a vida passa depressa, mas de que valem nossos passos se não for para deixarmos as marcas de nossas pegadas no chão? Somos reflexo das mãos que se estenderam para nós no caminho. Somos a busca incessante pelos corações que necessitam serem acolhidos e abrandados. Para quem se importa. Para os outros, só interessa aquilo que não somos.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Laços imaginários

Eu não estava preparada para aquilo. Não que eu nunca tivesse andado de mãos dadas com alguém, mas senti que era uma espécie de invasão de privacidade. Acostumei aos encontros noturnos em barzinhos, os amassos no carro, o sexo sem qualquer compromisso e ir embora da casa dele antes mesmo de vê-lo acordar. Mas aquela saída despretensiosa da praia, a distância entre a mesa e o carro tinha o quê? 30 metros? Não sei. Nem contei os passos. Fiquei meio atônita, sem reação. Ele, simplesmente, segurou a minha mão enquanto caminhávamos.

Pode parecer bobagem, mas para mim não era. Namorei uns três caras em toda a minha vida. Fiquei “sério” com outros três. Só. Ele eu via como um amigo acima de tudo. Com alguns benefícios, é claro. Mas era um cara com quem eu trocava altas ideias, risadas, beijos, carícias e intimidade entre quatro paredes. Segurar a mão não. O sexo é uma entrega de proporções inigualáveis, é troca de energia, é não-sei-o-quê de chakras e a porra toda. Mas caminhar de mãos dadas é foda. É ultrapassar uma barreira que a gente coloca no momento em que definimos o que queremos daquela relação. Amizade colorida, P.A. e B.A., amigos com benefícios, sexo sem compromisso... tanto faz, pode chamar da forma que quiser, mas, cacete, não ultrapassa esse maldito limite, por favor?

Fonte: collegemagazine.com

Ok. Não há um arame farpado, cerca elétrica, portão guardado por cães raivosos e nem gente correndo atrás para vender cartão da C&A afugentando e impedindo qualquer coisa. Mas naquele nosso contrato imaginário está escrito em letras garrafais quase como um décimo primeiro mandamento: NÃO ANDARÁS DE MÃOS DADAS! Sério! O cara é bonito, gente boa, faz uma lasanha ótima, toca violão e até fala francês. Mas andar de mãos dadas é, praticamente assumir para a sociedade que você está com alguém! Já imagino chegar segunda na faculdade e o crush de lá da sala comentar que me viu na praia no sábado. ÊTAPORRAFUDEU!!! Nem precisa dizer que me viu acompanhada. Já sei que perdi o boy...


Não tenho problemas em assumir algo, desde que seja um sentimento recíproco. Custa nada chegar para mim e perguntar: Belinha, vamos assumir algo? - Não, obrigada, próximo da fila! - Não quero, estou bem como estou, não rolam cobranças, almoço em família e sobrinhos emprestados que nunca vi na vida me chamando de tia. Não é o tempo que estamos juntos que vai fazer com que se aflorem os sentimentos e transforme a relação num algo mais. Diálogo serve para isso. O que eu quero é o mesmo que você quer? Ótimo! Vamos pensar em conjunto. Nossos desejos são diferentes? Bola pra frente, gato. Nem tudo é como queremos. Então, vamos fazer um trato? Antes de segurar a minha mão, me pergunte se esse é o caminho que eu realmente estou disposta a tomar...

domingo, 12 de junho de 2016

Esse tal de amor romântico

Que me perdoem os filósofos, psicólogos, psiquiatras, estudiosos e descrentes, mas eu continuo acreditando no amor romântico. Não naquele amor bonitinho de propaganda de família feliz nos comerciais de margarina e nem, muito menos, das megaproduções cinematográficas que se luta contra tudo e contra todos para viver aquele amor de conto de fadas e seu “e viveram felizes para sempre”. Acredito no amor em sua forma mais simples e pura, em que duas pessoas estão dispostas a viver a liberdade de seus sentimentos sem precisar escondê-los por se sentirem ridículos em demonstrar perante uma sociedade cada vez mais fria e individualista.

É preciso entender que cada um irá ver o amor de sua maneira. A mídia e o capital vão tentar te empurrar datas comemorativas, necessidade de presentes, de viagens a dois, jantares românticos e que estar sozinho é para pessoas tristes e vazias. A sociedade enxerga a solidão desta maneira. Mas há quem se complete com sua própria companhia, a solitude é o estado de sentir-se bem do seu modo, abraçado e satisfeito unicamente com o seu amor-próprio. As escolhas que fazemos são parte das nossas vivências. Há quem chegue a conclusão de que ficar só é o melhor para si baseado em relacionamentos fracassados e outros que, simplesmente, veem uma vida a dois como uma maneira de se podar sua liberdade. Além do que, ser só não é exatamente estar só. Nada impede a satisfação sobre a casualidade dos encontros. Para esses, parabéns! Se toda forma de amor vale à pena, amar-se é o passo fundamental para sentir-se completo. Mas, dentro de nossas completudes ainda há espaço para amar quem nos faz bem a ponto de entregarmos nossos corações.

Fonte: http://twicsy.com/i/DviXkf
O amor é feito de equilíbrio. Não é a soma de duas metades, mas uma média aritmética simples. Dois inteiros que se somam e se dividem num único propósito: serem felizes juntos. O ideal romântico para os estudiosos é completamente diferente do que nós, pobres mortais, nos dispomos a viver. Romantismo não é o que vemos estampado nas capas de revistas. Não é aquele texto lindo do site especializado em relacionamentos que se manda para o(a) namorado(a). Não é tirar foto juntos em todas as ocasiões, das mais banais como num sábado de manhã na cama ainda ao meio-dia ou todo empacotado no casamento do primo à espera da hora de jogar o buquê. Não é rabiscar um post-it todos os dias dizendo que é amor. Não é Tristão e Isolda, Romeu e Julieta ou Vivian e Edward. Romantismo de verdade é ser companhia às 3 da manhã no hospital por causa de uma apendicite. É caminhar de mãos dadas num domingo no parque, enquanto há pessoas que recriminam por não serem um “casal tradicional”. Romantismo é lutar junto para registrar o nome de sua filha Makeda Foluke. Romantismo é ser Rafael e Geovana, homem cis e mulher trans, assumirem um amor que quebra os paradigmas de uma sociedade tão preconceituosa. Se o amor é revolucionário, o romantismo é uma das armas com que se luta pela revolução.

Não dá para negar que existe a banalização do amor. Há quem fale que dizer “eu te amo” está tão usual quanto desejar “bom dia”. Ambos de forma automática, diga-se de passagem. Mas, no fundo, a gente sabe quando é amor de verdade. O desejo de bom dia também. Há quem chegue em nossa vida e esteja disposto a ser motivo de nossos melhores sorrisos, que nos conquiste com suas ações, seus gestos e, acima das palavras, com a verdade em seu olhar. Idealizar um amor romântico é compreender não que cada panela tem a sua tampa, mas que cada uma delas traz em si um ingrediente que, individualmente é maravilhoso, mas quando se põe à mesa e se leva ao prato, ganha um sabor fantástico. O jantar está posto e o lugar ao lado está reservado para quem chegue para ficar. O amor é a receita para todos os dias.


terça-feira, 12 de abril de 2016

Pequenas coragens amorosas

(Para ouvir enquanto lê: Hiding my heart away - Adele)



"Gente... ontem bebi demais, abri o whatsapp e mandei uma mensagem me declarando apaixonado pela garota que gosto. Ainda tô sem graça e sem cara para abrir lá novamente com receio da resposta à besteira que falei..."

Quantas histórias já escutamos parecidas? Amigos, primos, irmãos, gente desconhecida... todo final de semana um novo mico se torna conhecido. Mas será que, no fundo, essa bobagem feita não é apenas mais uma vontade enrustida que vem à tona, encorajada e potencializada por efeitos alcoólicos? Aquela velha desculpa da bebida já nem convence mais de tantas histórias corriqueiras que escutamos. E uma coisa é certa, a pessoa perde carteira, esquece onde estacionou o carro (importante: se beber não dirija), não consegue andar meio metro em linha reta, não acerta encaixar a chave na fechadura da porta de casa - quando se lembra onde mora -, mas, milagrosamente, encontra o nome da pessoa na agenda do celular (o mesmo que não consegue diferenciar se está filmando ou tirando foto) e escreve uma mensagem enorme lembrando da viagem que fizeram à praia no feriado de Tiradentes a 5 anos atrás.

Fonte: arquivo pessoal


Qual o problema em termos pequenas coragens? Aliás, quando foi que declarar paixão a alguém se tornou um ato de coragem? Em tempo de amores líquidos, ter um sentimento sólido se tornou um ato de rebeldia! E digo mais, nesse caso, ser líquido em nada tem a ver com fluidez, mas sim com o fato de não se ter algo palpável, que não se pode estender a mão e ter a firmeza de um terreno certo onde se pisa. Por que temos tanto medo de falar sobre os nossos sentimentos? Estamos deixando o individualismo, um dos grandes males do século XXI, nos tirar a vontade de viver grandes histórias a dois. Preferimos a certeza do trivial do que a incerteza de um mundo novo, que nos pode oferecer tanto algumas tristezas, como também plenas alegrias. Será que vale o risco? Depende de quanto seu coração está disposto a encarar outros caminhos.

E essa tal de reciprocidade? Palavrinha que vem assustando àqueles que teimam em acreditar no amor. Ou melhor, a ausência dela. Afinal, que louco seria se gostássemos na mesma intensidade da outra pessoa, não é?! Mas, se a gente não se permite nem mesmo querer estar com alguém, como vai saber se há algum sentimento recíproco? Não espera a primeira bebedeira para dizer que gosta não! Esquece o celular, larga esse facebook de lado, se veste com o seu melhor sorriso e diz olho no olho o que sente. As palavras sempre ficam em segundo plano quando o olhar começa a falar. E é justamente esse brilho o verdadeiro termômetro do que o coração diz.