quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sobre estar só

"Sob o olhar atento de casais que desfilavam a utopia de uma falsa felicidade, deitada à sombra de uma amendoeira, a garota de sorriso fácil refastelava-se em Bandeira num regozijo quase orgástico".

Estamos acostumados a encarar os relacionamentos amorosos como sendo um decurso natural da vida. Ao menos é o que a sociedade sempre buscou deixar bem claro. A visão conservadora perpassada entre gerações, qualifica a existência da felicidade intimamente ligada ao estado civil do indivíduo. "Como vai o coração?", pergunta típica dos encontros familiares dominicais, não é somente uma curiosidade quanto a estar com alguém ou não. Por trás desse questionamento há uma série de elos que se unem até formar o ciclo da existência humana que aprendemos na infância nas aulas de ciência: nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. Sim, no final das contas não é realmente a sua felicidade que importa, mas sua função reprodutora a fim de perpetuar a espécie. Mas o que faz pensar que, para ser feliz, há de se viver ao lado de alguém? Em uma lógica do evolucionismo darwiniano, o indivíduo contemporâneo opta por exercer o seu direito à individualidade. O autoconhecimento é o primeiro passo para se alcançar a felicidade. A partir disso, no decurso da vida, suas aptidões pessoais, planos, anseios, necessidade, respostas, tomam para si os valores a serem descobertos e vivenciados e, aí sim, em segundo ou terceiro plano, pode-se pensar em compartilhar sua vida ao lado de alguém. Lembre-se: compartilhar, nunca dividir. Somos seres completos por natureza e buscamos o equilíbrio sobre as vertentes que margeiam nossa vida. Assim também funciona quando a compartilhamos com outros indivíduos.

Talvez aqueles casais que te vejam à sombra da amendoeira namorando Bandeira, coitados, tenham inveja do que veem. Precisam um do outro para se completarem, incapazes de se equilibrarem dentro de si mesmos.


Um comentário:

  1. Realmente é entediante, todos esses padroes, ser incompleto por determinação, não é opcional, vão colocando na sua cabeça que é PRECISO estar com alguem.. "melhor sofrer junto, que viver feliz sozinho..." Concordo que é muito bom ter alguem, mas que seja sadio, que não faça que a pessoa deixe de ser quem é, não precisa deixar de ser "eu" para ser apenas "nós".... melhor que seja: "eu e você", que assim pode durar mais e se durar pouco vai ser o pouco que for. Mas sao muitas questoes ne, se fosse tão normal assim ter a vida ao lado de uma pessoa, seria mais natural, mais facil... mas enfim, bom texto como sempre...

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