Alguns
amigos me chamam de tonto. Outros dizem que se lerdeza fosse um
esporte olímpico, o Brasil já teria a medalha de ouro
garantida comigo. Para mais alguns, a culpa é da astrologia e
meu mapa astral diz que sou do signo de lerdo com ascendente em
desatenção. Mas, falando sério, quando o assunto é perceber
que tem alguém flertando comigo, meu nível de esperteza vai do
100 ao 0 mais rápido do que o créu invertido na velocidade 5.
Isso não significa que em 100% das ocasiões eu esteja num
mundo paralelo enquanto a outra pessoa levanta uma cartaz em minha
frente dizendo “fica comigo?”, ok?! Apenas que meu radar de
percepções anda um tanto quanto fora de sintonia desde há
muito tempo. Daí, de vez em quando, me aparece uma janelinha
imaginária flutuando ao meu lado junto com aquela voz robótica
do windows dizendo “suas definições de lerdeza foram
atualizadas”.
Mas
juro que a culpa não é minha, viu?! Acho que acostumei a ser aquele
cara na adolescência que sempre era o ombro amigo quando as
meninas precisavam desabafar. E olha que eu era bom nisso!
Bem…
eu acho, né?! Afinal, perdi as contas de quantas vezes eu escutava
um “Migo, tô triste. Vem aqui em casa que eu preciso
desabafar. Minha mãe fez bolo.”. Ok, muitas vezes eu ia por causa
do bolo, mas ele durava menos do que o desabafo, então eu
realmente parava para escutar o que elas diziam. No final sempre
rolava aquele abraço apertado e um “se você não fosse meu amigo,
eu me apaixonaria por você”. – Friendzone! – alguns
diriam. Absolutamente não. Antes mesmo de pensar em ter
qualquer tipo de interesse por alguém, eu já era o amigo em que
elas confiavam. E, convenhamos, só machistas idiotas que falam
“baladinha TOP” é que não acreditam em amizade entre homem
e mulher.
Fonte da imagem: arquivo pessoal |
E
assim fui enxergando boa parte das pessoas que cruzavam meu caminho.
Levava muito mais em conta a aproximação das pessoas com a
intenção de me verem sempre como aquele cara solícito, pronto
para trocar boas ideias, dar altas risadas, ajudar no que fosse
preciso e ser uma espécie de “Hitch – O conselheiro
amoroso” na versão tupiniquim de baixo orçamento. De tanto me
aproximar das pessoas sem interesses escusos, acabei tomando
como verdade também o contrário. Já escutaram aquela
expressão “Sou legal, não tô te dando mole” (Sim, tinha até a
comunidade no orkut!)? Pois então, tanta gente legal nesse
mundo e eu lá tenho como saber logo que Fulana ou Sicrana está
a fim de mim? Tudo bem que é romantizar demais a ideia de que todo
mundo é legal até que se prove o contrário, mas também não
dá para pensar que, só porque a pessoa te deu um bom dia, você
já irá imaginar até o nome do cachorro que adotará para o
aniversário de 5 anos do filho de vocês.
Já
aconteceu caso de, depois de 10 anos, a pessoa chegar e dizer “Cara,
lembra do nosso tempo de colégio? Eu era louca para ficar
contigo”. Ué?! Como assim?! E só me diz isso agora? Daí
ela começa a te contar inúmeras ocasiões – e você lembra
de todas – em que ela só faltava escrever na própria testa
que era você com quem ela queria estar. Mas, óbvio, como todo bom
astronauta do asfalto, você ria. Apenas ria. A menina linda e
que todo mundo era a fim estava lá te dando o maior mole e
você, moleque bobo de aparelho nos dentes e espinhas na testa,
apenas sorria e pensava que era um cara de sorte por ter uma
amiga tão legal. Ok. Você era realmente um cara de sorte, mas
não custava nada ser sortudo e esperto também, não é?!
Não
precisa ter uma placa balançando no pescoço escrita “eu gosto de
você” enquanto faz 36 polichinelos – parafraseando Gabito
Nunes – para que eu tenha certeza de que realmente está gostando
de mim. Mas também não custa nada chegar e dizer que gosta. É que
alguns sinais podem até ser bacanas, deixar no ar aquela coisa
legal de que pode rolar algo, mas, sabe… 99% anjo, perfeito,
mas aquele 1% é… lerdo.
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