domingo, 24 de julho de 2016

Aquilo que não somos

(Para ouvir enquanto lê: Tout Le Monde - Carla Bruni)






Caminho a passos lentos por medo da queda. Não que eu me importe com os machucados, mas, com um mundo cada vez mais egoísta, me preocupo em não ter quem possa me estender a mão. É um fardo imenso levar consigo um grito uníssono e quase inaudível a quem se recusa a enxergar mais do que a si próprio. Meu grito é um clamor por atenção, é quase um pedido de socorro. É por medo de ser sozinho nesse mundo que ainda tento me fazer ser ouvido.

Carrego uma mochila nas costas cheia de sonhos e expectativas e o peso das minhas escolhas é quase insuportável. Pelo caminho sempre encontro pessoas dispostas a se aventurarem e percorrerem as trilhas abertas pelos passos que dou. Todos trazem suas próprias bagagens, umas mais pesadas, outras mais leves. Poucos são os que aceitam dividí-las. A explicação é óbvia. Se recusam pelo medo de ter que carregarem mais do que suportam. Tolos. O que há em comum entre nossos desejos não se soma e sim se complementa, se compartilha, tirando o peso de levá-los sozinhos. O problema é saber quem está realmente disposto a correr os riscos que a estrada proporciona.

Fonte da imagem: tripzone.com
Aos que aceitam, devolvo sorrisos aos rostos de quem, até mim, vem com lágrimas. Permito que descarreguem suas angústias, suas tristezas, suas mágoas... é como se eu pudesse captar toda aquela energia negativa acumulada e a neutralizasse. E os próprios sorrisos que voltam a brotar em seus rostos é o que me traz a paz de saber que meu trabalho foi feito. Coloco de volta a mochila nas costas e retomo minha lenta caminhada, deixando sementes de gratidão plantadas em corações outrora vazios de esperança. A estrada é longa e a vida passa depressa, mas de que valem nossos passos se não for para deixarmos as marcas de nossas pegadas no chão? Somos reflexo das mãos que se estenderam para nós no caminho. Somos a busca incessante pelos corações que necessitam serem acolhidos e abrandados. Para quem se importa. Para os outros, só interessa aquilo que não somos.

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