quinta-feira, 8 de maio de 2014

Quando ela sorri

Havia uma garota em minha rua por quem eu era apaixonado. Não daquelas paixões avassaladoras do coração quase sair pela boca quando ela passava, mas de palpitar sereno no peito quando ela ia ao meu encontro. Também não de causar tremedeira nas pernas e rubor na face, mas de me fazer suar as mãos ao entrelaçarmos os dedos e me abrir um sorriso bobo na boca ao mínimo gesto de carinho. Mas, mais que o fascínio que ela exercia em mim, era o poder que tinha de parar o mundo com um simples descerrar de seus lábios.

A primeira vez que me presenteou com seu sorriso, foi como se eu houvesse descoberto o maior segredo do universo (acabei descobrindo depois que era o da minha felicidade)! Parecia que tudo em seu rosto seguia uma sincronia perfeita dos passos de um folguedo clássico. Cada curva que se formava a partir do seu sorriso era de uma sutileza que o meu coração já nem mais batia, carnavalizava no peito. Enquanto ressoava alguma canção de mansinho em mim, tudo nela entrava em sintonia para fazer valer o que estava para emanar de perfeição de seu rosto. Ao tempo dos seus finos lábios se abrirem, o vento farfalhava as folhas das copas que rodeavam nosso encontro, seu rosto se inclinava como se quisesse esconder-se sob seus negros cabelos; e os pássaros assobiavam como em coro a musiciar nosso encontro. Seus olhos semicerravam devagarinho, o Sol se escondia por detrás dos prédios por não poder concorrer ao brilho que logo dali viria; e suas bochechas cresciam sobre o rosto e se encaixavam perfeitas como a aurora de um dia vindouro. Enquanto o relógio atrasava os ponteiros para que aquele instante não findasse, de longe o mar dançava embalado por seu próprio som; e seu sorriso terminara de florescer por completo ainda maior e mais belo que o perigeu da Lua cheia.

Depois daquele dia, sempre quando ela sorri, peço perdão ao Sol por haver encontrado algo que brilhe mais que sua luz. Confidencio à Lua num canto, que já não há como tê-la de musa para meus versos de homem errante. Agradeço ao vento por me trazer um novo acalento ao peito em forma de poesia. E entrego-me ao mar para que suas ondas naveguem-me sempre ao encontro daquela que me faz feliz.



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