quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Os opostos se distraem

(Para ouvir enquanto lê: Everything you want - Vertical Horizon por Boyce Avenue)



No rádio uma velha canção embalava seus sorrisos a luzirem sob as estrelas. Seus corpos entrelaçados balançando a rede na varanda, enquanto os planos de um amanhã a dois brotavam a cada novo gole do seu Cabernet favorito. Seus olhos fitavam o horizonte, vasto e infinito como o amor que inventaram para si...

Compreender o amor não fazia parte dos seus pensamentos naquela noite. Enquanto ele pensava nas inúmeras possibilidades de lugares para conhecerem, ela sonhava com a casa avarandada com vista para a serra. Enquanto ele queria desbravar novos caminhos em uma natureza interminável, ela só pretendia ter um beijo de despedida e um desejo caloroso de um bom dia antes de ir trabalhar. Enquanto ele era temporal, ela era brisa. Enquanto ele era rush, ela se encantava com o silêncio madrigal.

Ainda assim brincavam de amar. Iludidos pela total distância entre seus quereres, talvez esperançados de que suas gritantes diferenças os alçassem a um patamar de equilíbrio por serem tão opostos. Aprenderam, quando ainda novos, que “opostos se atraem”. Só esqueceram de ler nas entrelinhas que se tratava de uma lei da física, e não é bem assim que funciona nas relações. O que os faziam ser tão diferentes e que tanto encantavam-nos foi se esvaindo, escorrendo pelas mãos como grãos de areia. O que antes fazia sorrir, ganhou contornos duros e de malfadadas feições...

- Por que você não pode mudar?
- Esqueceu que me conheceu assim?
- Mas eu pensei que...

Pensou que... o outro pode mudar porque já não o agrada mais da mesma forma? Ninguém é obrigado a estar com alguém que goste sempre das mesmas coisas, ter as mesmas ideias, os mesmos pensamentos... Convenhamos, logo logo se tornaria a relação mais entediante do mundo. Mas moldar o outro de acordo com seus gostos? Nem moldar e nem deixar ser moldado, ok?! Somos reflexos de nossos sonhos, nossos desejos. Somos personagens principais da nossa própria história.


Carência faz ver amor onde não tem. Hoje em dia, fabricamos o amor que queremos a cada esquina, a cada novo beijo, a cada novo abraço que ganhamos. Mas amor não é meramente um querer, é sentir. E estamos perdendo essa capacidade a cada instante que optamos por enxergá-lo mais como necessidade do que como consequência. E quanto mais nos iludimos, mais distantes nos permitimos chegar do que o seu verdadeiro valor pode nos proporcionar.

Fonte: observatoriodeventos.files.wordpress.com

2 comentários:

  1. Vitor, sempre muito bom ler seus textos! Parabéns! :)

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    1. Obrigado, Ana!!! É sempre um grande estímulo saber que tem gente que curte meus devaneios! rsrs

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