(Para ouvir enquanto lê: Everything you want - Vertical Horizon por Boyce Avenue)
No rádio uma velha
canção embalava seus sorrisos a luzirem sob as estrelas. Seus
corpos entrelaçados balançando a rede na varanda, enquanto os
planos de um amanhã a dois brotavam a cada novo gole do seu Cabernet
favorito. Seus olhos fitavam o horizonte, vasto e infinito como o
amor que inventaram para si...
Compreender o amor não
fazia parte dos seus pensamentos naquela noite. Enquanto ele pensava
nas inúmeras possibilidades de lugares para conhecerem, ela sonhava
com a casa avarandada com vista para a serra. Enquanto ele queria
desbravar novos caminhos em uma natureza interminável, ela só
pretendia ter um beijo de despedida e um desejo caloroso de um bom
dia antes de ir trabalhar. Enquanto ele era temporal, ela era brisa.
Enquanto ele era rush, ela se encantava com o silêncio
madrigal.
Ainda assim brincavam
de amar. Iludidos pela total distância entre seus quereres, talvez
esperançados de que suas gritantes diferenças os alçassem a um
patamar de equilíbrio por serem tão opostos. Aprenderam, quando
ainda novos, que “opostos se atraem”. Só esqueceram de ler nas
entrelinhas que se tratava de uma lei da física, e não é bem assim
que funciona nas relações. O que os faziam ser tão diferentes e
que tanto encantavam-nos foi se esvaindo, escorrendo pelas mãos como
grãos de areia. O que antes fazia sorrir, ganhou contornos duros e
de malfadadas feições...
- Por que você não
pode mudar?
- Esqueceu que me
conheceu assim?
- Mas eu pensei
que...
Pensou que... o outro
pode mudar porque já não o agrada mais da mesma forma? Ninguém é
obrigado a estar com alguém que goste sempre das mesmas coisas, ter
as mesmas ideias, os mesmos pensamentos... Convenhamos, logo logo se
tornaria a relação mais entediante do mundo. Mas moldar o outro de
acordo com seus gostos? Nem moldar e nem deixar ser moldado, ok?!
Somos reflexos de nossos sonhos, nossos desejos. Somos personagens
principais da nossa própria história.
Carência faz ver amor
onde não tem. Hoje em dia, fabricamos o amor que queremos a cada
esquina, a cada novo beijo, a cada novo abraço que ganhamos. Mas
amor não é meramente um querer, é sentir. E estamos perdendo essa
capacidade a cada instante que optamos por enxergá-lo mais como
necessidade do que como consequência. E quanto mais nos iludimos,
mais distantes nos permitimos chegar do que o seu verdadeiro valor
pode nos proporcionar.
Fonte: observatoriodeventos.files.wordpress.com |
Vitor, sempre muito bom ler seus textos! Parabéns! :)
ResponderExcluirObrigado, Ana!!! É sempre um grande estímulo saber que tem gente que curte meus devaneios! rsrs
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