- Eu...
Eu... Eu... Me apaixonei por você!
Foi assim
que começou a nossa última conversa. Sem primeiro dar um abraço,
aquele sorriso característico seu ou perguntar se melhorei da gripe
da semana passada. Chegou, sentou à minha frente e me largou essa
bomba na mesa, às quatro horas da tarde, à sombra da amendoeira na
pracinha em frente ao seu departamento na faculdade. Seu olhar era de
quem tinha visto um fantasma! Nunca o tinha visto assim antes. Certo
que nas três últimas semanas havíamos nos falado pouco e nos visto
menos ainda. Primeiro as provas, depois a viagem dele à casa dos
pais no interior e, por último, minha gripe que me derrubou na
cama por sofríveis dias. 23 de janeiro de 2017, também conhecido
popularmente por “hoje”.
Nunca
tínhamos delimitado até onde iríamos na nossa relação.
Ficamos. Ou ficávamos. Já não sei bem exatamente. Também já nem
lembro desde quando. Mas não era apenas uma satisfação da
necessidade dos nossos corpos. Ok... Talvez tivesse sido isso no
início, mas com o tempo foi deixando de ser. Falávamos todos os
dias, não como uma obrigação, mas é que fazia falta quando isso
não ocorria. Mesmo que fosse só para dizer um “oi, beijo e
tchau”... era uma maneira leve de dizer um “pensei em você”.
De vez em quando ainda ouvíamos de nossos amigos aquele velho clichê
do “vai dar em namoro”. Ríamos. Será? Acho que não. Nesse
momento não era o que passava pelas nossas cabeças. E falo “nossas”
porque já tínhamos conversado sobre isso antes. Meu término de
namoro recente e seus planos de mudança para outro Estado falavam
mais alto.
Mas o que
havia mudado de três semanas para cá? Seu olhar antes tão cheio de
ternura, agora demonstrava um misto de angústia, de susto, medo.
Aquele cara tão seguro de si, tão cheio de desenvoltura para falar
e de atitudes tão sóbrias e de pensamento rápido, parecia um
menino acuado, com medo do desconhecido. Sua voz quase não saía, o
olhar se perdia em meio a tudo o que havia ao redor e nunca conseguia
se fixar em mim, ali, parada à sua frente!
- Ana...
Não sei quando exatamente aconteceu... Mas andei pensando muito em
você esses dias... Mais do que o normal, sabe?! Mais do que eu
poderia imaginar. Me dei conta disso quando encontrei uma foto sua
perdida em meu celular e, desde então, todos os dias, continuo dando
um jeito de me perder só para chegar ao mesmo lugar...
Fiquei
atônita. Primeiro porque ele nunca me chamava pelo primeiro nome.
Segundo porque ele me mostrou a foto e eu me lembrei exatamente como
foi aquele dia. Olha que eu nunca fui muito boa de memória, mas
aquela foto me fez ter uma infinidade de lembranças de cada detalhe
daquele dia em que estivemos juntos. E, por último, pelo seu pedido de
desculpas. Quem pede desculpa por se apaixonar? Aonde tinha escrito
que não estávamos sujeitos a sentir algo mais forte um pelo outro?
Somos humanos, caceta! Somos perfeitamente imperfeitos! Ninguém
assina um contrato quando vai ficar com alguém e tem que rubricar
na cláusula 12.1.3 onde diz que “é terminantemente proibido se
apaixonar”.
Eu
confesso que não esperava. O que eu fiz para merecer alguém
apaixonado por mim? Ainda mais ele: Felipe! Um cara que nove entre
dez mulheres dariam um rim para ficar com ele. Não, péra. Um rim
não. Um brigadeiro talvez. Mas um cara que poderia facilmente
encantar quem ele quisesse. Desses caras apaixonantes, sabe?! Mas era
por mim! Eu fiquei totalmente sem reação! Aliás, antes mesmo de eu
dizer qualquer coisa, ele emendou:
Fonte: Pinterest |
- Talvez
essa paixão seja um erro. Você é importante para mim de um jeito
único. Acho melhor dar um tempo... Não quero estragar a amizade que
a gente construiu. Só preciso entender o que tá rolando comigo, tá
bem?! Não diz nada... Só me deixa ir embora...
Me deu um
abraço apertado como nunca havia me dado antes, sorriu meio sem
jeito e partiu. E eu? Deixe ele ir... Não que eu quisesse vê-lo
sair daquele jeito. Não que eu não sentisse vontade de correr,
abraçá-lo ainda mais forte e dizer para deixar de bobagem, pois eu
também o queria ao meu lado. Não que eu estivesse confortável em
ver indo embora o homem que, nos últimos meses, me despertou
diversas sensações que fizeram eu me sentir desejada não pelo que
me enxergam através dos olhos, mas pelo que me conhecem do meu modo
mais inteira e tão cheia de defeitos. Logo aquele cara que tanto me
trouxe coisas boas nesses últimos tempos, que me foi um elo de força
em momentos que eu precisei, que me causou alguns dos meus melhores
sorrisos e me arrancou desejos, segredos, gargalhadas, suspiros...
Ele que, no momento em que eu mais buscava sossego, me causou tanto
desassossego... E partiu sem me deixar dizer que também me
bagunça... Apaixonado por mim?!