Tenho pressa de viver. Mas, por mais contraditório que pareça, prefiro andar devagar. Contemplo a vida. Gosto de viver cada instante como sendo o único, o amanhã pode nunca chegar, por isso a pressa pela vida mesmo a passos lentos. Não leio rótulos de vidros de azeitona no mercado (odeio azeitonas com toda a força do meu ser), nunca sei quando vem ou não com caroço. Mas quando certos olhos me fascinam, se sorriem de mansinho ou se se enchem de desejo, sei a hora certa de provocá-los ainda mais. Posso cair no mesmo buraco da calçada dez vezes em uma semana, mas, nas curvas dos lábios quais beijo, sempre me perco de propósito só para percorrê-los mais uma centena de vezes.
Caminho sozinho a maior parte do tempo. As pessoas ainda não aprenderam a enxergar o mundo do mesmo modo que eu enxergo. Longe de mim dizer que é uma falha deles. Mas, tem horas que fugir do estado racional é necessário para que a vida se transforme. Quando aprendi a andar devagar, "muitos passaram, eu passarinho". Conheci melhor a mim mesmo. Criei asas e voei baixinho sem hora pra voltar. Sim! Voei baixo... o suficiente para que, os que não tivessem asas, caminhassem ao meu lado. De lá do alto é sempre mais bonito, mas de que adianta ser alado se não puder compartilhar das coisas que vejo? Não quero o tempo como meu adversário, correr contra ou atrás dele. Quero-o como companheiro. Andar de mãos dadas, vê-lo passar devagar contando conchas, catando estrelas, amando auroras. Não suporto a idéia de pensar que o tempo apaga as lembranças da memória. Talvez por isso eu ande devagar, ainda que as alternâncias da vida sejam constantes, tudo o que ficou de bom por onde passei não se abala, nada apaga.
O bom de ter o tempo como companheiro é que, a qualquer instante, se pararmos, ele para junto. Se corrermos, também corre junto. Só não há como retroceder, por isso eu espero. Tenho andado a passos lentos para que, quem em algum momento tenha ficado pelo caminho, possa me alcançar. A vida é curta para se perder nos rótulos dos potes de azeitona. Saber contemplar o que realmente importa é o que faz ela valer à pena.